Uma notícia agitou os meios médicos esta semana. Um paciente americano de 44 anos portador do vírus HIV (e que também sofria de leucemia), parece ter sido curado de ambas as doenças graças a um radical transplante de células-tronco.
Se a notícia for confirmada, terá sido o primeiro caso no mundo de cura do vírus HIV, que vem driblando a comunidade científica desde sua descoberta, lá por volta dos anos 1980. Até agora, o máximo que se conseguiu foi conter sua proliferação no organismo, mas à custa de medicação pela vida toda do paciente.
O anúncio, publicado na revista científica Blood e feito por uma equipe médica em Berlim, onde o paciente foi se tratar, agitou a comunidade acadêmica e, claro, deu esperanças a milhões de pacientes que portam o vírus. Além disso, gerou manchetes precipitadas em sites, jornais e revistas – um defeito bem comum do jornalismo apressado.
Em resumo, o que os médicos alemães fizeram foi um transplante de células-tronco. Elas vieram de um doador que tem uma rara mutação genética (1 pessoa em cada 1 milhão) que o torna naturalmente resistente ao HIV – suas células de defesa não possuem o receptor em que o vírus se encaixa. Isso aconteceu em 2007.
Em fevereiro do ano passado, os médicos não detectaram mais o vírus, mas suspeitaram que ele pudesse estar escondido em algum canto. No entanto, este ano, mesmo com a supensão dos remédios, o paciente permaneceu com a contagem de células de defesa em nível normal. Por isso, foi decretada a cura.
Isso significa que a cura para o HIV foi encontrada? Infelizmente, não.
Para eliminar suas células de defesa originais, receptivas e contaminadas pelo vírus, o paciente teve de submeter a uma pesada quimioterapia e radiação em todo o corpo. O longo tratamento provocou uma série de efeitos colaterais severos, além de ser radical a ponto de ter 30% de mortalidade – ou seja, potencialmente pode matar três de cada 10 pacientes, o que é inaceitável. O paciente teve problemas neurológicos e uma recaída da anemia, obrigando a um novo transplante. Por isso, os cientistas consideram esse um caso de sorte.
Por outro lado, o caso do americano, se for realmente confirmado como uma cura, abre uma nova e emocionante avenida para os cientistas. Em tese, células-tronco modificas por engenharia genética podem, no futuro, substituir as células de defesa infectadas pelo HIV. O caminho para isso, no entanto, ainda levará tempo, avisam os pesquisadores.